A prática da técnica de Rapel tem se tornado uma febre, algumas pessoas praticam em busca de adrenalina, outras por prazer, e poucos são realmente profissionais na instrução e execução desta técnica. Já ví muita gente brincando com essa técnica, e vou dizer mais uma vez: Rapel não é uma brincadeira! Muitos tentam executar manobras complexas e de alto risco, apenas por um momento de emoção, e isso uma hora não acaba bem. Rapel é uma arte. Exige treinamento constante e adequado, isso é tão importante que a maioria das forças especiais militares e policiais já oferecem a técnica vertical em corda a seus operadores como um curso e não como módulo, como era antigamente. Porque é necessário especialização. Um grande problema são os pseudo-instrutores, são pessoas que nunca fizeram um curso na vida e não sabem nem mesmo fazer um nó, não conhecem as normas e procedimentos de segurança, e acabam levando pessoas para verdadeiras aventuras suicidas. Peço aos praticantes que reflitam sobre isso, acidentes causados por imprudência, falta de conhecimento técnico adequado, habilidade, uso de equipamentos inadequados e em péssimo estado de conservação, estão acontecendo. Vamos mudar isso! As estatísticas apontam que 99,9% dos acidentes são causados por falha humana. Peço cautela á todos, não façam de sua aventura uma tragédia. Sejam conscientes, e não se arrisquem. " Rapel, técnica desenvolvida para salvar vidas!"AO PRATICAR RAPEL, LEMBRE-SE: SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR. TÉCNICA DE ACESSO POR CORDA NO BRASIL
No Brasil, a técnica de acesso por corda é uma atividade nova e até pouco utilizada. Já possuímos uma certificação pessoal para acesso por corda, ABNT NBR 15475, 15595 - procedimentos para aplicação do método e, das homologações internacionais NFPA, CE e UIAA. Países europeus como, Inglaterra e França, tem tradição em atividades em altura com acessos por corda, onde operações desse tipo são comuns e seguem o padrão operativo determinado pelo IRATA. No Brasil, é comum vermos trabalhadores se arriscando em serviços em altura, utilizando EPI inadequado(Quando utilizam) e sem treinamento para atividades em planos elevados e, a consequência disso é o grande registro de acidentes. O acesso por corda traz econômia e agilidade ao serviço, porém, para que a operação seja segura e com sucesso é necessário emprego de profissionais qualificados e experientes. Não é qualquer pessoa que poderá trabalhar em altura, é preciso habilidade técnica, condicionamento físico e preparo mental. Vacilos em altura causam acidentes muito sérios! Somente profissionais com experiência comprovada em operações reais podem executar trabalhos em altura com segurança e precisão. As empresas interessadas em treinar funcionários ou contratar trabalhadores para atividades em altura, devem se consultar apenas com profissionais da área. Devem solicitar referências e até mesmo registro operacional. Estes são cuidados básicos e fazem a diferença na hora da escolha do profissional.
DICAS ESPECIAIS
EQUIPAMENTO PARA CAMINHADAS EM TRILHAS
Muitas pessoas gostam de se aventurar por trilhas nos finais de semana, porém, é necessário cuidados ao se preparar a mochila para esse tipo de atividade.
Atenção especial se deve ter com a escolha do equipamento que será levado.
Alguns materiais nunca devem faltar na mochila do aventureiro e, devem ser levados para qualquer tipo de trilha.
O apresentado aqui, em meu conceito de preparação, é o material básico:
- Cantil, água é uma prioridade e seu armazenamento é importante, então é bom investir em um cantil resistente, do tipo militar, mas garrafas em alumínio ou um sistema de transporte do tipo mochila (popularmente conhecido por "Camel Back"), ou até mesmo em garrafas plásticas também são eficientes.
O importante é carregar, no mínimo, 2 litros de água.
Em longas caminhadas será necessário reabastecimento, então tenha em mãos pastilhas purificadoras do tipo"Clorin".
Não beba água sem antes tratá-la!
Mesmo uma fonte de água cristalina pode estar contaminada.
- Kit de Primeiros Socorros, deve ser conduzido e não pode faltar em hipótese alguma.
Montado de acordo com a capacidade técnica de quem o carrega e todos os demais integrantes da equipe, porém, luvas de procedimento, tintura de iodo, gaze, esparadrapo, soro fisiológico, ataduras, tesoura ( sem ponta ) , pinça, cobertor térmico aluminizado e medicamentos de uso comum podem ser incluidos.
O material tem de ser acondicionado em estojo e protegido contra umidade, podendo ser guardado dentro de um saco plástico limpo.
Quanto mais avançado o conhecimento sobre APH ( Atendimento Pré-Hospitalar ), mais avançado será o kit.
- Ferramentas de Corte, carregue uma pequena lâmina, pode ser um canivete convencional, multifunção (os Victorinox são os melhores) ou um tático, que permite a abertura com apenas uma mão, mas evite automáticos, pois, são perigosos e podem abrir acidentalmente dentro do bolso ou da mochila.
É muito importante que esteja bem afiado. Lembre-se : a lâmina perigosa é a lâmina cega, porque nessa situação acaba-se exercendo força exagerada para o corte e isso é extremamente perigoso.
- Kit sobrevivência, deverá conter equipamentos úteis em caso de emergência. O básico que o kit precisa ter é, uma vela (muito útil para encerar cordões e couro), reforçando-os, fósforos, isqueiro, retinida 3mm e 10m de comprimento, elásticos, fita adesiva , espelho para sinalização, fitas Hellermann, uma lona 3x2, linha de pesca e anzol, um pouco de sal e açúcar, um canivete pequeno e uma lanterna com pilhas reservas.
- Kit Costura, muito útil no mato, uma vez que, roupas, mochila e calçados podem ser danificados por espinhos, galhos, pedras, etc.
Pequenos carreteis de linha com cores variadas, um dedal, agulhas de tamanhos diferentes, além de uma agulha grande em aço e linha de nylon para reparos em couro ou lonas enceradas.
- Lanterna, é também, um equipamento que não deve sair da mochila, mesmo em caminhadas matinais.
A lanterna tem de ser boa!
Existem muitas marcas, mas, indico a Maglite, Surefire e Black Diamond, entre outras.
Eu utilizo a boa e velha Fulton MX-99/U, lanterna militar americana, modelo sinaleira, foi desenvolvida para atender as necessidades do USMC, teve seu batismo de fogo na guerra do Vietnã. Posteriormente, foi adotada por várias forças militares. Apesar da grande resistência e funcionalidade, hoje em dia é considerada ultrapassada, mas, continua sendo uma ótima escolha.
- Bússola, muito importante, mas, de nada adianta carregar uma se você não tiver noções mínimas de orientação e navegação.
Dois tipo são interessantes para o trekker mais destemido, a do tipo "visada" ou a "transferidora ".
A de visasa é mais precisa, porém, demanda mais treinamento para utilização correta, já a transferidora, é muito boa para navegação por carta.
Adquira bússolas de qualidade e as melhores são as Suíças.
Atualmente, utilizo uma transferidora da marca Suíça Silva.
- Corda, a corda é um equipamento muito útil. Pode ser utilizada para auxiliar um colega em um trecho íngreme, para içamento de mochilas, etc.
O ideal é carregar um cabo (corda) de poliamida ou polipropileno com pelo menos 10m, para uso geral.
ATENÇÃO : ESTA CORDA É PARA APOIO BÁSICO, NÃO PODERÁ SER UTILIZADA PARA RAPEL , ESCALADA, TIROLESA OU TÉCNICAS VERTICAIS, POIS, NÃO É UM CABO APROPRIADO PARA ATIVIDADES EM ALTURA!
- Binóculo, não é essencial, mas é prático, principalmente, na navegação por bússola, pois ajuda na identificação de pontos de referência.
Não é necessário um binóculo astronômico de 50 vezes de aumento, pode ser um de foco fixo 8x21.
Algumas marcas muito boas: Bushnell, Tasco e Celestron. Modelos com filtro ótico, à prova d'água e zoom são melhores, mas, são caros.
- Chapéu ou boné, sempre leve uma cobertura para cabeça.
A proteção oferecida pelo chapéu é maior por cobrir testa, orelhas e nuca. Em ambientes frios também são importantes, diminuindo a perda de calor pela cabeça.
- Luvas, eu sempre carrego um par de luvas em couro na mochila.
Elas protegem as mão contra abrasão, cortes e oferecem proteção térmica.
* É importante ter uma coisa em mente, nenhum dos equipamentos citados substitui o "bom senso", assim, antes de sair para uma "missão" tenha certeza e conciência de sua capacidade operacional, não se arrisque e nem coloque outras pessoas em situação de risco.
SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR, SEMPRE!
Délcio Serra - Instrutor e supervisor Rapel de Intervenção.
PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA PARA PROGRESSÃO COM MOCHILA
- Não carregue mochila pesada sem calçado adequado.
O correto é usar botas. Calçado baixo, nem pensar!
- Não caminhe com barrigueira e peitoral abertos, isso causa desequilíbrio e dor nos ombros.
- Não deixe excesso de fitas soltas, elas podem enroscar em galhos ou quinas e ocasionar quedas.
Durante as paradas para descanso confira os ajustes das alças e hidrate-se, o peso extra acelera a desidratação.
- Em travessia de cursos d'água, independente da profundidade, solte a barrigueira e a fita peitoral. Esse procedimento permite que, em caso de queda na água, a liberação da mochila seja rápida, evitando afogamento por pânico.
- Não tente nadar com mochila nas costas.
- Não se arrisque em transposição de obstáculos verticais com mochila nas costas, prefira içar ou baixar a mochila por corda.
- Não transporte ferramentas de corte sem acondicionamento em bainha ou estojo dentro da mochila.
- Não use as alças da mochila como meio de apoio para um colega, elas não foram projetadas para isso.
- Não corra com peso nas costas, nem mesmo em terreno plano e previsível.
- Não execute descida em rapel com mochila nas costas, isso pode acarretar em inversão do CG.
- Não se aproxime de precipícios , canyons ou abismos com mochila nas costas. Além do peso extra, a mochila aumenta a área de contato com o vento podendo haver desequilíbrio e queda.
Isso também vale para operações em cumes e cristas de montanha.
- Não tente carregar mais do que você realmente é capaz.
- Retire a mochila para transposição de fendas e condutos em cavernas.
- Não execute travessia por cabo aéreo ou submerso com mochila.
Com estes pequenos cuidados a progressão será mais segura e menos cansativa.
Délcio Serra - Instrutor e supervisor de Rapel de Intervenção.
Incompatibilidade de Materiais - Ferragens.
A utilização de ferragens em atividades em altura requer cuidados quanto a conexão direta entre metais diferentes.
Então, são dois aspectos importantes a serem observados, primeiro quanto a dureza do metal e o segundo quanto a sua carga de ruptura.
Ferragens em aço e duraluminio não devem ser conectadas diretamente uma a outra, pois, há incompatibilidade técnica de tais materiais, isso é especialmente importante na aplicação pessoal (EPI).
Devido a sua maior dureza a peça em aço pode causar danos a peça em duraluminio devido ao atrito, então, não se deve utilizar um mosquetão em duraluminio com um descensor de aço, por exemplo.
Estes materiais dissipam o calor gerado pelo atrito de forma diferente, algo significativo em termos de dano para materiais fibrosos.
O aço, apesar da dureza, é muito suscetível a oxidação, bastando apenas o suor das mãos para oxidá- lo. Essa reação pode causar travamento da rosca e portão em mosquetões de aço, inviabilizando seu uso no meio aquático.
As ferragens em aço são pesadas e agregam carga extra ao equipamento do operacional.
O duraluminio é leve, possui ótima resistência a abrasão, além de dissipar melhor o calor e não oxida com facilidade.
A única desvantagem é a baixa resistência a choques (impactos).
Porém, o procedimento de inspeção para os dois materiais recomenda o descarte das peças em caso de queda , independentemente do material, assim, o duraluminio continua sendo o principal metal para ferragens aplicadas em altura.
As ferragens em aço ficam mais restritas às ancoragens.
Lembro também que as peças devem possuir cargas de rupturas similares.
Não adianta possuir um equipamento para resgate com um freio oito com 40kn conectado a um mosquetão com 20kn, haverá incompatibilidade nas cargas de ruptura.
As cargas devem ser aproximadas para que haja segurança operacional adequada.
Esse assunto é especialmente importante para técnicos em operações em altura, tripulantes operacionais e bombeiros especializados em salvamento em altura, pois estes costumam operar em situações onde os equipamentos são mais exigidos.
Fica a dica!
Muita atenção quanto ao emprego de ferragens.
Délcio Serra - Instrutor e Supervisor de Rapel.
Banalização da Técnica Vertical em Corda (Rapel).
Venho observado e alertando, já faz tempo, para a banalização das técnicas verticais, em especial, a técnica de rapel.
Sempre que vou a algum lugar para ministrar cursos ou treinar me deparo com praticantes despreparados e mal orientados e que, mesmo após serem alertados quanto aos riscos, procedimentos e equipamentos incorretos persistem no erro, ignorando o grande perigo.
Conversando com "praticantes" em campo, constatei que, praticamente a maioria nunca fez um curso e normalmente aprendeu com quem não domina os rudimentos básicos para execução de técnica vertical em corda. Além disso, confiam em video aulas de rapel, algo absurdo do ponto de vista de segurança.
É necessário vivenciar a atividade com acompanhamento profissional e especializado, impossível por video!
Aprender a confeccionar um nó ou executar uma ancoragem requer prática real, repetição assistida e técnica. Assistir um video várias vezes não é o mesmo que realizar o procedimento.
Rapel não é algo que pode ser "digitalizado".
É de extrema importância a concientização dos praticantes quanto aos riscos de se aventurar sem formação adequada. Erros causados por má escolha de um ponto de ancoragem, uma corda errada ou ferragem com carga de ruptura inadequada pode acarretar em acidente fatal, isso é irreversível!
Quer praticar? Procure por instrutores profissionais, renomados, com experiência comprovada e registrada e sem envolvimento em acidentes ou incidentes.
Instrutor Profissional não é aventureiro de fim de semana.
Instrutor Profissional de rapel não brinca com pêndulo, não cede via para ninguém e não aceita atitudes imprudentes.
Importante informar que a técnica de rapel é a que mais registra acidentes fatais no mundo, isso é fato!
Assim, qualquer um interessado em praticar essa atividade deve ser orientado quanto aos riscos e que escalada, tirolesa, alpinismo e rapel são atividades distintas e com características diferentes. Nada de generalizar, faz um faz todas, isso é papo de pessoas despreparadas e sem noção de perigo.
A vida é mais importante que qualquer momento de emoção!
Na dúvida, não faça!
Délcio Serra - Instrutor Profissional de Rapel de Intervenção.
Descensor com Trava Anti-Pânico
Um descensor com trava anti-pânico é muito eficiente em longas descidas, resgate e trabalho em altura.
Como o sistema de passada da corda é linear, o desgaste é reduzido, porém, deve-se observar sua compatibilidade com bitolas variadas.
Alguns descensores desse tipo operam bem apenas com cabos de 10 a 11,5mm, não funcionando muito bem com cabos 12mm.
Existem vários modelos, mas, o modelo Indy da marca Kong é um dos melhores.
Possui engate rápido para mosquetão, duplo sistema de bloqueio anti-pânico, além de ser bem leve. É o modelo mais utilizado no mundo por profissionais.
Já operei com o modelo Indy em vários tipos de missão e ele se saiu muito bem.
Porém, fica um alerta: É necessário treinamento específico para utilização deste tipo de descensor, assim, como qualquer outro EPI, portanto, não adianta comprar e não saber usar.
Já fiquei sabendo de casos de acidente com este equipamento por falta de treinamento e adaptação por parte do usuário.
É também indicado para atividade de exploração de cavernas e canyoning, mas deve-se ter muita atenção nos procedimentos de fracionamento, quando houver.
Sua vantagem é o fato de não torcer o cabo, evitando assim, desgaste exagerado por atrito e superaquecimento.
Não é eficiente para assalto à edificações ou descidas táticas.
Délcio Serra- Instrutor Profissional de Rapel de Intervenção